Desenhar um logótipo é como ter um filho. Há que pensar que o precisamos educar da melhor maneira possível não vá ele, a determinada altura, querer aventurar-se sozinho por este mundo fora e perder a sua identidade. Queremos que mantenha todos os valores que lhe incutimos e que, caso regresse a casa, traga a sua integridade intacta!
Quando um cliente vem ter connosco e nos pede para criarmos um logótipo, quer seja para uma empresa, produto ou evento, cabe-nos procurar conhecer a fundo esse mesmo serviço ou produto, o próprio cliente e a sua forma de fazer negócio, os seus valores e os seus objetivos, assim como o seu posicionamento face ao mercado e o que pretende alcançar. Que diferença apresenta dentro do mercado face à concorrência, o que é que o distingue para que o possamos comunicar de forma clara e inequívoca.
Podemos fazer vários logótipos para o mesmo ramo de negócio, mas nenhum será igual ou semelhante a outro, porque cada um crescerá a partir de um conceito desenvolvido através das tais características diferenciadoras.
Ora, então, como é que podemos tentar garantir que esse filho, que muito embora seja do cliente possui também alguns dos nossos genes, não perca a sua identidade e se mantenha como uma referência junto aos consumidores?
Podemos, e devemos, elaborar um Manual de Normas Gráficas. Todos os logótipos devem fazer-se acompanhar deste documento, o qual deverá ser respeitado e criteriosamente cumprido pelo designer que o utilizar, quer seja dentro ou fora da empresa que o desenvolveu. É portanto fundamental, que o cliente compreenda a sua importância e o disponibilize em conjunto com o logótipo sempre que seja necessária a sua utilização por parte de outra pessoa que não o designer que o criou.
No Manual de Normas Gráficas, devemos apresentar o logótipo e especificar como é que deverá ser utilizado. Normalmente, os manuais mostram formas erradas de aplicar a imagem, mas existe uma tão grande infinidade de variações que nos parece ser mais útil indicar as formas corretas de o fazer, eliminando logo à partida todas as que saírem das propostas no documento. No entanto, dado que as empresas crescem, evoluem, dinamizam eventos, criam produtos e promovem serviços novos, precisando constantemente de novo material publicitário, pode surgir uma situação que não terá sido pensada no manual de normas. Quando assim for, procurando manter a coerência gráfica e não deixar situações em aberto, devemos atualizar o manual com mais essa especificação.
Dado que praticamente todas as empresas possuem um website e quase sempre o espaço onde o logótipo se insere tem uma orientação horizontal, é fundamental termos pelo menos duas variações do logo, uma com enquadramento horizontal que possa ser utilizado no website, por exemplo, e outra vertical ou quadrada. Embora devamos definir a que consideramos ser a principal, podemos optar pela que melhor se enquadra ao suporte em que vamos trabalhar.
Para todas as variações é necessário que se definam as dimensões mínimas de reprodução, ou seja, evitar que o logo seja impresso numa dimensão tão pequena que não permita a sua legibilidade, especialmente quando existe uma tagline cujas letras costumam ser já de dimensão reduzida. Quanto menor for a qualidade de determinado sistema de impressão, mais cuidado devemos ter em não aproximar as dimensões das designadas como mínimas.
Temos ainda a área de defesa, que não é mais do que o espaço que define as margens de segurança em redor do logótipo, que o vai proteger de outros elementos gráficos e manter uma leitura eficaz. São as margens de segurança mínimas permitidas que devemos representar no manual.
Precisamos também definir as cores que compõem o nosso logo e indicá-las em diversos sistemas de cor, tais como, Pantone (impressão offset), CMYK (impressão offset e digital), RGB (ecrã), Hex (HTML) e Escala de Cinzas.
Importa ainda mostrar o comportamento do logótipo sobre as suas cores institucionais, sobre cores mais claras e mais escuras, sobre cores especiais, tais como dourado e prateado, assim como as variantes a positivo e negativo. Em determinadas situações vamos precisar de usar o logo a uma só cor, como acontece, por exemplo, nos carimbos, ou quando temos de usá-lo sobre determinada cor ou fotografia sobre a qual a sua leitura poderá ficar comprometida e a solução passa por utilizar as opções a positivo ou negativo. Todas estas situações precisam estar previstas no manual, tendo sempre presente que o mais importante é proporcionar a boa legibilidade e fácil reconhecimento do logo.
Relativamente à tipografia, é comum o logótipo ser constituído pelo nome e por uma tagline, sendo que muitas vezes são dois tipos de letra diferentes e o primeiro poderá não funcionar bem em texto corrido por não permitir uma leitura adequada, por ter um formato demasiado trabalhado tornando-se cansativo quando usado num bloco de texto, ou por possuir caracteres limitados. Então, se enquanto no título só precisamos dos caracteres que o compõem não precisando de nos preocuparmos com os restantes, devemos escolher para a tagline uma fonte cuja família seja o mais completa possível e que para além de incluir no mínimo os estilos regular, bold e italic, tenha também caracteres acentuados, sinais de pontuação, números, maiúsculas e minúsculas, permitindo-nos escrever sem limitações. Esta fonte, para além de ser usada na tagline, deverá também ser utilizada no corpo de texto do estacionário, em brochuras ou outras publicações onde se utilizem blocos de texto.
Convém ainda indicarmos as fontes que sejam o mais parecidas possível às que compõem o nosso logo e que se encontram disponíveis no Google Fonts, para que as possamos usar no website da empresa, funcionando assim perfeitamente em todos os computadores e plataformas online sem que a falta do tipo de letra altere o grafismo.
A tipografia deve ser apresentada no manual, indicando a que pertence ao logo e a que deverá ser utilizada no website. Caso o lettering usado na construção do nosso logótipo já se encontre no Google Fonts, não é preciso fazer essa distinção.
Estas são as diretrizes básicas e essenciais para elaborar um Manual de Normas Gráficas, que poderá ser mais completo ao incluir uma apresentação inicial sobre a empresa e a construção do logótipo, estacionário, sinalética, decoração de viaturas, anúncios institucionais ou promocionais, merchandising, etc., conforme sejam as necessidades de cada cliente e o quanto estará ele disposto a investir nas especificações do seu manual e da sua identidade. Se o logótipo da sua marca ainda não tem Manual de Normas Gráficas, esperamos ter dado o alerta para a sua importância e que tenha sido este o input que precisava para dar seguimento ao seu!
E o prazer de o fazer...o logotipo? Terá que entrar na equação 🙂 e tal como na conceção e desenvolvimento do bebé devem deixar tranquila a mãe para que tudo saia perfeito. É contra produtivo não aproveitar todo este amor e dedicação querendo dar ideias e conceitos. Deixar amarca desenvolver a marca.
Parabéns e por favor aumentem a natalidade com muita qualidade como tem feito até agora.
JS
Olá João,
É assim mesmo, prazer há sempre mesmo havendo uns partos mais difíceis que outros. Correndo o risco de roçar o lugar comum, a verdade é que o que fazemos, fazemos sempre com alma, amor, dedicação. Amarca (= Amar a Marca) não surgiu por acaso 🙂
Muito obrigada pelo feedback e pelas palavras de incentivo, João!