
A IA trouxe velocidade e eficiência a processos que eram antes mais demorados, por possibilitar o acesso a ferramentas capazes de gerar muito rapidamente centenas de propostas visuais que permitem testar cenários que, de outro modo, exigiriam dias de trabalho. Esta capacidade em automatizar tarefas repete-se na criação de paletas cromáticas, tipografias ou mesmo guidelines de marca. Não substituindo o designer, a tecnologia amplia apenas o campo da experimentação, tornando possível avaliar hipóteses, visualizar caminhos e afinar propostas com base em dados recolhidos. Assim, a fase exploratória ganha dimensão e a criatividade encontra um aliado que acelera a execução, mas que, em momento algum, o substitui.
Neste artigo, exploramos como a IA está a transformar o design de marcas, o que muda, o que nunca vai mudar, e como as empresas podem tirar partido desta revolução sem perder a alma.
IA no Design: Ferramenta ou Ameaça?
Com o crescimento de plataformas como Midjourney, DALL·E, Canva AI ou Looka, qualquer pessoa pode gerar de forma automática algo de muito próximo a um logotipo.
É rápido? É impressionante? Em certa medida podemos dizer que sim, mas todos sabemos que está longe de ser suficiente.
A Inteligência Artificial é boa a multiplicar possibilidades visuais, a gerar variações e a sugerir caminhos... Mas, está longe de se permitir criar significado! Quantas vezes nos deparamos com um logotipo que até pode ser esteticamente agradável, o tal bonitinho, mas que, ainda assim, o sentimos vazio? Se não houver uma narrativa que o sustente, se não existirem valores que lhe deem corpo, se não possuir uma história que o enraíze numa comunidade, não passa de uma simples imagem entre tantas outras, sem sumo, sem poder e sem reconhecimento.
Acreditem, construir uma marca vai muito além da forma. É preciso dar-lhe propósito, coerência e a capacidade de permanecer firme e relevante com o passar do tempo. Ora, é aqui que a máquina encontra o seu limite e onde o olhar e a sensibilidade dos criativos se tornam insubstituíveis, porque não basta produzir símbolos, o design de marcas exige intuição, sensibilidade cultural e visão estratégica. A escolha de um logotipo não se reduz a critérios matemáticos, envolve história, valores e narrativas que a tecnologia, por si só, não capta. Um algoritmo pode sugerir formas e cores, mas não compreende os símbolos que ressoam numa comunidade, nem prevê como uma identidade visual envelhece ao longo de décadas. Como tal, a nossa perceção e o nosso espírito crítico continuam a ser essenciais para dar coerência e significado ao que, no fundo, é sempre uma construção cultural, que é tanto geográfica quanto educacional e civilizacional. O espelho de uma sociedade ou de um grupo em específico.
O que a IA já faz (e bem)
O impacto da Inteligência Artificial no design é inegável. Entre as suas maiores virtudes destaca-se a capacidade de acelerar processos que antes exigiam tempo e energia. A geração rápida de ideias visuais tornou-se um recurso valioso no desenvolvimento de brainstorms, moodboards ou momentos em que o processo criativo parece estagnar, oferecendo-nos alternativas quase imediatas. Não entrega a solução final, mas ajuda no desbloquear de caminhos.
Outro contributo relevante é a análise de tendências e preferências visuais. Através de algoritmos que cruzam dados de mercado, setor e perfis de público, é possível antecipar estilos com maior probabilidade de aceitação. Esta leitura, orientada por dados recolhidos, poderá ajudar as equipas de design a perceber em que direção o público se move, e até mesmo a contrariar conscientemente o óbvio... Quando a resultados, somos livres de concordar ou não.
Há ainda o potencial da adaptação visual dinâmica. Algumas marcas começam a explorar identidades que se ajustam automaticamente ao contexto: logotipos que mudam conforme o dispositivo, paletas que se transformam consoante a hora do dia, elementos gráficos que dialogam com a localização do utilizador. É um território em expansão, onde a IA abre novas possibilidades de interação e relevância.
Limitações da IA no branding
Apesar das suas capacidades, a IA revela claras limitações quando é de branding que falamos, isto porque lhe falta o essencial, o storytelling. A máquina não compreende o “porquê” de uma marca, não lê clientes, não interpreta valores, não traduz emoções nem cria narrativas. Reconhece apenas padrões e combinações visuais. Consequentemente, os resultados tendem a ser genéricos e muitos logotipos produzidos por IA tendem a ser semelhantes entre si, reflexo de bases de dados partilhadas e referências já gastas e repetidas. Este excesso de semelhança anula a diferenciação, elemento fundamental ao sucesso de qualquer identidade visual.
Ainda, e sobretudo, a IA não pensa na estratégia. Pode conseguir produzir design mas não formula posicionamento, não reflete sobre tom de voz nem trabalha a cultura de marca. E o branding, conforme vimos anteriormente, não é apenas aparência, é a construção de uma identidade sólida, com conteúdo e que resiste ao tempo. E essa visão continua a ser humana.
O Futuro é Híbrido: Criatividade + Inteligência
Na Amarca procuramos abraçar o novo e o que de melhor a tecnologia nos traz. Acreditamos, por isso, ser possível um futuro promissor no combinar da IA com talento, sensibilidade e conhecimento humano. Não vemos, neste ponto, a Inteligência Artificial como uma ameaça… Vemo-la como uma ferramenta que nos permite explorar com maior rapidez, testar hipóteses de forma ágil e encontrar estímulos visuais que enriqueçam o processo, mas não acreditamos que vá substituir a análise crítica, a estratégia de marca ou a sensibilidade que nasce da experiência humana.
Da mesma forma que, quando a certa altura, lá nos antípodas do meu tempo de estudante universitária o computador entra na minha vida como um elemento estranho, algo de completamente novo e desconhecido (e de alguma forma assustador por ser uma analfabeta na área da informática), impondo-se ao processo de criação numa altura em que se usavam os mais variados materiais e técnicas, aliados apenas às nossas mãos e à nossa criatividade, não me senti refém e muito menos limitada ou intimidada. Antes pelo contrário. As possibilidades alargaram-se, e o tempo para o pensamento criativo e para a experimentação tornou-se maior e mais fácil. Na verdade, a imaginação era quase o único limite existente (produção à parte…). Ainda hoje, o lápis e o papel fazem parte do meu processo de trabalho, assim como a experimentação, o sentir dos elementos que compõem a imagem, a procura do elemento chave que torna cada projeto especial e o diferencie dos demais. Afinal, o que seria se não pensássemos uma solução diferente para dez sapatarias, porque cada sapataria teve um percurso diferente e terá um caminho próprio, cada marca tem uma visão única e cada público uma característica exclusiva… A criatividade não se resume a gerar formas e cores, é a capacidade de ligar símbolos a significados, de traduzir valores em linguagem visual, de dar voz a uma identidade. A IA pode acelerar a execução, mas é o olhar humano que garante consistência, autenticidade e relevância.
Portanto, aliar lápis, papel, computador, internet e AI é viável, e só nos poderá trazer coisas boas desde que nunca se descure a nossa exigência na procura da qualidade e da diferenciação naquilo que criamos.
Marcas que ficam na memória não nascem por acaso, são criadas com método, propósito, emoção e visão, e é neste equilíbrio entre tecnologia e criatividade que vemos o futuro: um terreno onde a máquina amplia as possibilidades, mas onde o sentido e, principalmente a espírito, continuam a ser humanos.
Conclusão
A Inteligência Artificial está a transformar o mundo do design. As ferramentas multiplicam possibilidades, aceleram processos e abrem novos caminhos visuais, mas o futuro das marcas continua a ser construído por quem entende as pessoas e valoriza a perceção. A IA pode gerar um logotipo, pode até sugerir cores e formas que agradam ao olhar, mas só o designer e a agência certos conseguem criar uma marca com alma, uma identidade capaz de refletir os valores corretos, gerar confiança ao público e permanecer relevante no tempo.
No fim de tudo, a diferença entre um símbolo e uma marca estará sempre no significado que lhe damos e naquilo que nos faz sentir, e isso, meus caros, não se consegue através de uma máquina sem pele, sem carne nem sangue.
Pretende criar uma marca que combine inteligência e identidade?
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